segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Époquê

Suspendo o juízo com alma, espírito, sentimento,

paro o tempo diverso e indistinto que me afoga.

Persigo com calma, vida, reflexão para o mundo de que me afasto.

Olho e, sem querer, mergulho nos ideais que abandono

que me enchem de ar indolente, sinestesias dormentes.

Cresço com calma e pressa de crescer sonhando, vivendo.

Transpirando o odor fino da inteligência incompleta

da razão que sobriviveu ultrapassando as emoções.

Eu sonho pensando que vivo crescendo,

na imaginação do mundo pensado onde vivo.

E penso... penso que sou obrigada a pensar

simplesmente porque sou humana.

E tu, se quiseres viver realmente, suspende o juízo

e deixa-te levar pelo sentimento espiritual

que segregas do pantanal da vida, onde te afundas...

e onde morrendo, todos vivemos vagarosamente depressa.
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A ti, Florbela Espanca

" Deixa-me dizer-te os lindos versos raros

Que a minha boca tem para te dizer!

São talhados em mármore de Paros

Cinzelados por mim para te oferecer.!


Pincelando palavras eternas

Escrevo, crescendo a ver,

A dor das literaturas modernas

Que um dia soubeste escrever...


O roxo das tuas pestanas

Reflecte-se no papel escurecido

Sofres... tristes famas

que contigo terão nascido.


A mestria das tuas palavras

Um dom rebelde, de se exaltar!

Foram textura que ao sol ainda gravas

dentro da escurisão do luar!


Os meus versos não são lindos, raros

Mas o meu coração tem de t'os dizer!

São os sentidos que dentro de aros

palpitam por te poder ler!
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Aventuras

Aventuras, percursos itinerantes

Vidas ocas, paixões flutuantes

são carinhos, violência, frustração híbrida...

Cores embriagadamente funestas ao espiritual,

coagem ruidosamente no objecto ideal,

que vive no ideal do sonho, como um sonho ideal
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Escreve-me

Escreve-me e deixa-me viver, beber as tuas palavras

Vive e deixa-me viver nos teus raios de sol.

Chora e deixa-me cobrir-te a alma com os meus passos

por onde possas caminhar secretamente...

Escreve-me para este meu lugar perdido

Onde aguardo a tua resposta, silenciosamente...

Escreve-me e deixa-me fluir em ti.
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Falésia

Falésia poderosa de costa crepitante que aflige o mar...

Rocha de marfim que testa a sua imponência num olhar.

Que medo concedes no teu firme deslumbrar,

Sendo como sonho feito de sabão azul e branco, feito para purificar
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Folha de Papel

Tanque de emoções motivadas de motivações moribundas...

Que crescem ao voar da tinta ansiosa e emotiva.

Descarga de episódios surrealistas e ordinários.

Duma vivência sem sentido atroz, mas com um sentido...

um sentido inconformado de atrocidade feroz

que se retrai com mdeo do seu próprio mundo

e do mundo que não pretende encontrar.
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Aqui

Aqui jazem as minhas mágoas

Como cristais, lágrimas profundas

Aqui ficam partidas as tábuas

Como sonhos... mortes moribundas


Aqui fica aquilo que é meu

em pedaços de céu perdido

Aqui vive aquilo que morreu

nas mãos de um mundo ferido


E Aqui tudo fica tão longe como perto

soa a um batuque incompreendível

num Adeus ainda incerto


E... aquilo que repousa morre em mim

como flor sem pétalas esperando melhor fim.
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Sentimento solitário

Que sentimento solitário...

Brota entre os gemidos de dor,

Que medo gélido do amor...

guardo em meu triste relicário!

Não és mais que sombra opaca,

Brómio enlouquecedor de paixão

Percorrendo-me com tal lentidão

Ultilizando uma subtileza fraca...

Vives assim como erva danunha,

Fixando-te nas minhas mágoas

Transformando-me em negra farinha...

Navegando em tuas fráguas.
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À Noite

A noite cai e as pétalas choram,

os sonhos caiem na vida negra...

As nuvens passam e o sol escurece

As ondas turvas do branco baço...

E as lágrimas escondem-se...

Escondem-se na imensidão de destroços

que ficaram para trás!

As culpas são as sombras

de dias intensos e sombrios.

E a culpa é toda minha.

Eu sou a noite que cobre o dia

O mar revolto nos dias de tempestade

E mais nada há a fazer...

Choveu. O chão está molhado

E eu, leão feroz de asas brancas,

Fico à espera dos raios de sol

para aquecer os sonhos desbotados.
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Eu era

Eu era a raíz, bem eu te alimentava
Tu eras a flor, frágil e bela
Eu era a princesa que tanto te amava
E passava o meu tempo a ver-te da janela

Um dia a flor secou,
A flor deixou de ser bela...
A princesa que tanto te amou
deixou de te ir ver à janela.
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Sozinha

Sozinha fico, quando os demais
comigo não estão...
E... quando eles estão comigo,
sozinha comigo estou...

O meu quarto é a minha chave
dos dias de doçura perdida...
que fechados a cadeado,
foram afastados da minha vida.
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Entre nós

Entre nós fica o vazio da noite

e o afagar das estrelas...

Entre nós ficam os raios de sol

para lá da colina adormecida...

Entre nós fica a Lua dos sonhos

desgarrada das grandes constelações.

E... o silêncio é duro e sombrio

Entre nós fica a música clássica

dos cantos corais das sereias...

Entre nós navega a calma

das esperanças talvez perdidas...

Entre nós ficam as pegadas

na areia húmida e transparente...

E... os anjos sonham com novas asas.
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  © 2009 Leite Quente. Limões Amargos (Poemas)

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